18 de maio de 2020

"já cheguei, mãe, adoro-te."



Tenho saudades de quando tudo parecia normal. Saudades de quando a estranha era eu e tudo à minha volta parecia encaixar de uma forma que ninguém previa. Sinto falta de sair de casa, apanhar um autocarro e avisar a minha mãe que cheguei, sempre com um adoro-te porque é verdade, e saber que chegaria a casa num instante e tudo seria normal. A estranha era só eu. A vida corria de feição e eu tinha tempo de me queixar sempre que algo corria mal. Agora parece que procuro as pequenas coisas para dizer que o dia correu bem. Dentro do mal, ter saído de casa sem ter um ataque de pânico parece-me bestial. É difícil sair de casa quando toda a gente o parece fazer sem medos. É difícil sair de casa quando os únicos dias em que temos força para o fazer são dois, porque nos outros estamos sozinhos. Eu não sei estar sozinha, mas sempre o soube ser. Aliás, nunca fiz outra coisa antes na vida. Sempre fui sozinha, mesmo rodeada de pessoas. A estranha era eu e agora o mundo gira ao contrário para todos. Há quem lhe chame ansiedade, eu ainda não tenho um nome. Hábitos de sono trocados e uma vontade enorme de não fazer absolutamente nada porque... what's the point? Ninguém sabe quando é que isto vai acabar e eu tenho saudades de quando a estranha era só eu. Freak. Não consigo respirar.

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