21 de junho de 2020


Não consigo falar. As palavras não saem e o coração sangra porque não percebo. Ou porque percebo bem demais. Dizem que não aprendemos nada e que temos que olhar pelo outro, que temos de olhar para quem nos rodeia e cuidar de quem não quer estar cá. Mas a verdade é que temos de olhar primeiro para dentro e perceber se queremos cá estar porque o resultado vai ser que, na maioria das vezes, não queremos. Brincamos e rimos, mas é tudo falso, não é? Não há motivação e dizemos que estamos cansados. Que é a pandemia e que não temos vontade de sair. Que é o calor e que estamos moles. Que estamos com a neura por causa da chuva. Mas não é isso, pois não? Não é só isso, pelo menos. É tudo o resto que não conseguimos medir e que não é palpável. Tudo o que temos e o que não temos, e o peso de termos tudo e sentirmos que não temos nada. Porque não temos, efetivamente, nada, mas vivemos como se tivéssemos de ter tudo, como se algo fosse nosso. Mas não é, nem somos. Não somos nossos nem somos nada, nem somos livres nem somos bons, nem temos tudo nem temos ninguém. Não olhamos para dentro nem sabemos o que está aqui. Não paramos para falar, para ouvir, para respirar. Não paramos para nada e depois, quando paramos... dói. Dói muito porque não sabemos parar, nunca paramos e estamos só cansados. Mas não estamos. Queremos sair daqui e, quando saímos, somos os maiores, os melhores, não devíamos ter ido e temos tudo. Mas enquanto cá estivemos, não tivemos nada.

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