4 de julho de 2020


Tenho nojo de mim. Olho ao espelho e não sei quem sou, embora saiba que há solução. É isso que dói. Dói saber que há solução e que não me mexo porque é como se não valesse a pena. Como se a sensação de nojo pudesse perdurar, mas sei que estou a entrar num caminho perigoso do qual será difícil sair mais tarde. Tento compensar com o intelecto e sou obcecada pelo conteúdo. Obcecada com reconhecimento e ser a melhor em qualquer coisa que faça quando, na verdade, nem me esforço o suficiente para ser a melhor a ser eu. Tenho nojo de mim quando passo num espelho e escondo-me atrás de roupas pretas que, por vezes, preferia que fossem rosa. O que dói é que sei tudo isto - dizem que ter noção do que passamos é meio caminho andado para encontrar uma solução -, conheço a solução mas não a consigo levar avante. Não consigo passar mais de dois dias a cuidar de mim. É como se o meu corpo sentisse que não mereço e a minha mente me tentasse sabotar. Auto-sabotagem define os meus dias nos últimos tempos. Auto-sabotagem ao deitar por terra todos os mínimos esforços que faço e auto-sabotagem ao dizer-me que qualquer coisa é melhor do que eu. Qualquer pessoa faz o que eu faço e não sou especial em nada. Não há razão para mostrar ao mundo, o que já existe nele em quantidades exageradas. Não acrescento nada ao mundo nem a qualquer nicho. O meu corpo diz que não vale a pena sair do sofá e a minha cabeça diz que não vale a pena fazer nada. Não vale a pena. Porque, no fundo, o que eles querem dizer é que não valho a pena e que o nojo traz conforto. Mas não traz. Traz dependência e uma entrada num buraco ao qual não vejo o fundo.

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